[Aroeira]

[A Rodolfo Stoppa Filho, meu pai, cujos olhos eu nem cheguei a ver...]

Velho tronco de aroeira...

Ainda hoje, corridos os anos,

roladas as águas,

aí estás, fincado, firme,

zombando do tempo!

O filho do imigrante tinha

os olhos verdes cheios de esperança

quando, confiante no futuro,

cravou-te firmemente no solo

em que ele engendrava um novo mundo!

E lá ficaste.... inerme testemunha da vida!

Mudo, quanta coisa presenciaste...

Certamente, viste as lágrimas dos que partiam

deixando, na batida da porteira em teu tronco,

a sua despedida daquele mundo simples!

As noites...

A lua cheia revelava a tua forma solitária

onde as corujas vinham pousar,

espreitando a escuridão!

Setembro... tinhas ainda em teu dorso a poeira

que era lavada pelas primeiras chuvas.

As mãos que te firmaram no solo

há muito tempo já não têm mais vida;

levadas foram pelas asas da Eternidade!

E aqueles sonhos todos, já nada são!

Mas tu permaneces...

E as marcas do tempo que em ti não doem,

em mim vincam sofrimentos...

Hoje, com as lágrimas rolando,

eu venho te buscar, aroeira!

Para sempre estarás,

cravada em minha alma!

[Da coletânea "Araguaris (Narrativas Poéticas)" - MNBA - Rio de Janeiro - 2001]