Intocada
Vive dando seu corpo ao abutre,
Sente o álito fétido dele
Vive intocada na toca invisível
Vê ao longe o desafeto
De cada refeição onde é comida
Banha-se da água que renasce
Sai como se nunca tivesse sido usada
Apaga o que passou
Parada, sabe a hora
Sente o presságio
De tanto ser usada, de corpo
Já não estranha
Revolta?
Mágoa?
Repressão?
Supressão?
A ave de rapina vilipendia o corpo morto
Para ela
Degusta do alimento
Que não existe
Aprendeu servir o anódino
Deixa-o saciar da comida sem vitalidade
Farta-se daquilo que nunca foi
Sai saciado do que nunca teve
O que fica é o que sempre valeu
A Alma, lá
Reluzindo, sempre
Bela
Continua colorindo e formatando
O corpo
Encantando-se com isso
E os outros
Faz a festa, alegra os presentes
Faz a diferença
Mantém-se encantadora
Sempre