O MALDITO
 
 
Pobre alma
rica de holofotes
o escracho do vulgar
brinca de sorrir
brinca de pensar
em dormir
p’ra acordar eterno
tem um inferno
por baixo da mesma cama
que não ama
faz amor consigo
p’ra dormir com ela
foi ao velório
de todo enterro
de espírito
mentir que era belo
precisa vestir
alguma moldura
armando figuras
conhecidas
pra se tornar igual
aquele que parecia
outra “mosca” comum
tinha um coração
perdido e doente
tinha um coração
amigo presente
não tinha lugar nenhum
os litros de lágrimas
não mais descem
pelo rosto
o céu da boca
terminal da loucura
falava coisas do oposto
que sentia
sentia frio de verdade
a verdade crua
é sempre nua
nos espelhos mágicos
que inventam um dia
p’ra não morrer de tédio
eles estão sobre as mãos
da esfinge de cristal
no tampo verde
dos jogos
jogam cartas riscadas
marcadas de vestígio
sujo
por poucos trocados
“teu racismo opera por fora
por dentro teu inimigo
nasceu do ventre
antigo
o que existe ainda
dorme contigo
te venerá no sepulcro
dos velhos símbolos
que caminham de mãos atadas
de mãos atadas
mesmo olhando o abismo”.