Meu Amor

Todas as minhas dores

não doem o tanto

que dói num ser desumanizado.

É triste saber que isso acontece

Que a pequenez humana,

a lamentável condição a que se submetem outros homens,

é a marca do quanto ainda somos vis.

O corpo, essa frágil estrutura,

refém das intempéries, não suporta tanto.

O corpo, hoje como noutros tempos,

ainda é o mesmo, ainda padece de necessidades,

ainda sofre e se recompõe, tão logo,

suas forças retornam,

Mas, assim mesmo,

Eis que surge quem o quer mais frágil,

E então, reduz o corpo a sua nada mais

que uma máquina autômata.

Meu amor,

não chore por mim.

Eu estou de passagem, sou um viajante,

Não tardará o dia em que desembarcarei.

Meu amor,

Chore por todos

os seres que sofrem a fome e o frio.

Chore pela seca, chore pela noite

que vela o velho abandonado.

Chore pela criança sem futuro; não chore por mim.

Somos humanos, sabemos

Cometemos atrocidades, sabemos.

Meu amor,

me abrace,

assim já não sofro