AVENIDA
 
rodrigo silva
 
a enxurrada escorria
limpando a sarjeta.
navegavam barcos abaixo
de papel desmanchando fluidez...
menenice e sonhos.
eu era almirante.
eram águas de verão.
– a mesma do tempo –
 
a enxada fazia a capina
nas mãos dos alienados
que vinham rua acima
em grupos assustando a todos:
suas realidades e seus infernos.
era a estiagem dos invernos.
– a mesma do vento –
 
na parte central havia canteiros.
era ampla e calçada:
granito e granizo.
de um lado a casa,
na casa a varanda:
meu mirante.
boteco à esquerda
Moraes Tira-gosto
e à frente padaria
Zanetti & Família.
abaixo o armazém
que se comprava com caderneta:
Boratto LTDA
secos e molhados baratos
– o mesmo catavento –
 
ela começava como boca,
que come e vomita,
de onde vinham e para onde iam carros.
terminava com copas de árvores,
eucaliptos da sericícola,
desenhando mapa
onde aprendi geografia
e cardiologia:
as coisas do coração:
contigo, memória, nos salva
de morrer sem história:
AVENIDA
de minha infância

– o mesmo alimento para alegria –


 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 28/03/2015
 
Poema para Ange
de Lo.

 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 10/11/2015
Reeditado em 21/11/2015
Código do texto: T5444196
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