O pó
As teclas estavam quebradas, corroídas pelo tempo que fora hábil em fazê-las disformes,
O piano abandonado em um canto, como a alma daquele que por vezes o dedilhara com emoção,
As flores murchas, dentro do vaso, esperando pela música que as libertaria.
O pó... Ah, o pó, esse era antigo e grosso, cobria os móveis e os sentimentos...
A sala escura evidenciava o desapego da luz,
O porta-retratos escravizava a imagem de uma alegria distante...
A porta mal fechada ainda permitia que o ar fosse respirável,
A dor oculta silenciara as paredes...
O relógio permanecia quieto...
Não havia mais o solene e obrigatório pulsar...
A noite chegara afinal.