O TESTAMENTO
 
 
Foi há muito tempo
que ela deixou de escrever
bobagens
cheias de maçãs
recheadas das bocas
entre nossas loucas
fascistas façanhas
de muitas linguagens
queríamos o deslize
do corpo suando frio
o corpo querendo
o outro corpo
dentro de um copo
tornando corpo
sendo outro
por dentro
o selvagem perigo
do desencontro
da verdade imperada
que deixa vestígios
éramos todos amigos
ela foi a única
de todas que acabou
não sendo
ficando distraída
na varanda
olhando Amanda
ir buscar outra bebida
outra história
outro cara vem
com ela divertindo
seu mundo de orgias
free lance das malícias
na escada subindo
ela quer andar no parapeito
sua saia rodada
grita ventos de tesão
aos homens lá embaixo
ela está tão baixo
ela pode cair
ela joga suas peças
p’ra torcida
do beberrões tolos
“não percebem sua altura”
viram-se de costas
p’ra nova rainha
passeando sozinha
as novas apostas
de quem fica com quem
onde transaria
com esta posse-conquista
ela olha p’ra cima
ela tropeça nos
próprios pés
ela grita aflita
ouçam malditos
sintomas da liga dos manés
vejam o lenço preso
na roseira pintada de sangue
olhem quem agora
dorme no jardim
p’ra sempre!