O picolezeiro

A sombra da árvore/

Assentado ao chão/

Da calçada quebrada/

Aquele homem calado/

Era um trabalhador/

Que a fome assolava/

E ele mitigava/

Com um resto de pão/

Naquele rosto/

Se isolados segundos/

O sol do meio dia/

Escrevia sem dó/

O sofrimento/

Não queria saber do passado/

Mas do momento/

Como a refletir/

Ele soergueu/

Pôs as mãos calejadas sobre o batente/

Seguiu que nem gente/

Empurrando um carrinho amarelo/

Num itinerário sem rumo/

Sob o som de uma campainha/

Anunciando para qualquer um/

Que quisesse/

Em tons variados/

Olha o picolé/

Pois sabia que ao voltar pra casa/

Tinha que ter algo para os seus filhos/