No dia em que morri
No dia em que morri
as pétalas
desprenderam-se das flores,
os pássaros
não cantaram,
e, tristes,
recolheram-se cedo
ao abrigo das árvores!
No dia em que morri
choveu
intermitentemente!
uma chuva fria
de gotas gélidas
que inundou de lágrimas
o coração
de quem fiz sorrir!
No dia em que morri
declarou-se
guerra entre as nações,
amigos digladiaram-se
sem porquê,
irmãos foram às armas
sedentos!
e lutaram, e feriram
e choraram!
No dia em que morri
o menino descalço,
sujo e faminto
não teve um teto
para se abrigar!
A sopa quente
foi para o ralo,
e o pão amanheceu
intocado e duro!
No dia em que morri
o sol não deu as caras,
ficaram acesas
as luzes
e não amanheceu!
não houve ordenha,
nem leite fresco
no frasco de vidro,
à porta!
No dia em que morri
os homicidas sorriram
e foram-se à cometerem
atrocidades!
Também os ladrões
e os perversos,
desprovidos de humanidade,
desdenharam
da premente justiça!
No dia em que morri
não houve
poesia,
não declamou-se versos,
não houve abraços
ou beijos carinhosos,
tampouco, feixes
de rosas
perfumadas!
Morri como quem parte
sem despedidas,
sem frases feitas
ou sorriso tristonho!
Morri de fome e de sede,
de abandono
e de esquecimento!
Morri como quem nasce:
apenas uma vez!
E chega, e vai, e passa...
Edson, out/2015