Dona Madrugada de Insônia
Lá se vai ela, despedida sem lágrimas, sem cerimônia, sem barulhos de estação. Vai embora sem parcimônia. Madrugada morna., escura e solitária. Vejo pela janela a claridade do dia que chega, ouço o gorjeio dos passarinhos que visitam a figueira e a roseira. Ela foi embora e eu fiquei aqui, outra vez, acordado sem conseguir impedir que assim o fosse.
Ah, Madrugada de Insônia, esse é teu nome e sobrenome e assim é teu modo de vida. Veio visitar-me, desde a muito tempo que vens, me tira do meu sono, sacoleja-me os pés, não me usa com propósito e vai embora sorrateiramente. Indecente.
Quantos anos tem que me visita? Quantas vezes por semana vem brincar comigo? Percebo que minhas horas de sono são poucas porque você vem zombar de mim, escárnio, Insônia zombeteira. Opróbrio de minha inspiração e nada me produz., de nada me aproveito nessas horas acordado.
É, dona Insônia, essa sua traquinagem bem que podia acabar, mesmo que eu tenha ficado tentando aproveitar o tempo, essa tua mania de vir mexer comigo bem que podia ter um fim. Dona Madrugada de Insônia, adeus. O dia chegou e eu vou... eu vou... eu vou fazer o quê?
Por Paulo Siuves