Poema da meia noite

Na bruma das calçadas, negros vultos

erram ligeiros, leves e medonhos,

assombrando as crianças em seus sonhos,

abrandando nas ruas os tumultos.

É o momento em que as casas se recolhem

e cerram-se os umbrais magnificentes,

tomando o assombro espíritos e mentes,

que a ação do corpo pávido então tolhem.

Sob os lampiões urbanos, tremulantes,

raquíticos mendigos aconchego

buscam, entre o festim de algum morcego

sedento pelo sangue borbulhante.

Num pequeno, sombrio e ermo castelo,

um poeta põe fogo ao seu cachimbo;

pega da pena e a tinta de um carimbo,

e a vela deixa um círculo amarelo.

O vento ruge pelos arvoredos,

a lua está no alvor mais imponente

e clareia os caminhos dessa gente

que se esconde, tomada pelos medos.

Esmurra as portas de uma igreja e berra

um garoto que chora e é tão franzino...

As doze badaladas marca o sino,

e à aurora, apenas morte sobre a terra!

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 31/10/2015
Reeditado em 31/10/2015
Código do texto: T5433688
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