Meus quase cinquenta anos...

Vou completar cinquenta anos!

Este tempo abateu-me um pouco.

Não consigo mais jogar futsal,

vou correr meus joelhos doem,

salto mortal eu morreria de fato;

o tempo acocorou-se nos lombos.

A ação do tempo é tão contraditória,

na alma ela não atua, segue juvenil;

no corpo um tsunami, mina as forças.

A alma continua menina e sonhadora

e cursa ao contrário do tempo, vai no

rumo de ser menino peralta de novo...

Adultos têm que suportar o peso da

lucidez; eu a levo tão a sério como

a roupa que me veste; o que me salva

é a vontade de ser criança que escapa

pelas frinchas e gretas da casca dura

deste meu corpo velho e me respira...

Se há no corpo a decadência da força;

há, na alma, luares do tempo de criança.

E ainda me cantam os canários da terra,

os peixes dos poços azuis, seus bagres;

o capim daqueles atalhos, o orvalho das

manhãs frias...Depois, adulto, trabalho.

Agora, necessito de silêncio para fazer

um rio no pensamento; antes, eu era o

próprio rio e suas pedras, seus sapos,

os coaxos, as formigas fugindo de pau

oco, os ovos dos ninhos, as frutas nos

galhos, a fome de todos os passarinhos.

Com cinquenta anos de idade um homem

sabe tudo do lamento dos rios e o coração

das mulheres; tudo de saudade, de perdas,

de sonho desfeito, mas não sabe ainda se

ser poeta é graça ilustre ou doença grave.

Só que faz a alma deste mortal mais suave.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 28/10/2015
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