HORS D´OUEVRES

não sou mulher

não tenho útero

mas sofri abortos

rebentos mortos

paredes imundas

telhados tortos

a casa toda enfim

ao deus-dará

ninguém para avisar

chamavam ao portão

incessantes palmas

impacientes almas

pensaram-me ausente

trouxeram-me agalmas?

o mundo todo enfim

reduzido ao amapá

sou homem

tenho gogó

mas guardo luto de viúva

me caiu como uma luva

dia seguinte

dia de chuva

terra limpa enfim

a mancha nunca sairá

ninguém para avisar

tínhamos visitas

conversa criada

silêncio risada

pensaram-me indelicado

ausência notada

silêncio enfim

ninguém mais falará