A Glória dos Porcos

A degradação contínua da pele, carne e ossos

A mente vai perdendo ano-a-ano a lucidez

Cuspidos sem razão a terra, nenhum motivo, apenas existimos

Somos escória, pária, rastejadores eternos com asas arrancadas

Somos apenas porcos os trituradores de ossos

Engolimos as evidências de nossa própria carnificina existencial

Há nutrição nisso? Sim, pois a indiferença vive sempre nutrida

Entreguei amor para receber desprezo e ele aumenta a cada dia

Sangrando dilúvios de insanidade

Gritamos ao nada, ferozmente: FODA-SE!

Como um alívio das pressões, porém tudo em vão

Tudo em ecos, afogados na escuridão do infinito, ninguém nos ouve!

Muitos já amaldiçoaram os deuses surdos as nossas orações

Porém, venho eu, aqui, vestido de negro na alma

Para conduzir a marcha fúnebre dos mortos antes de nascer!

Conduzir o funeral, não dos que morreram meus caros, mas sim, dos que nem nasceram

E convido: Venham irmãos! E comam esse banquete na minha festa!

Ofereço-lhes com todo meu coração dilacerado esse banquete podre

Sirvam-se de vermes, blasfêmia, infâmia e muito rancor... Toda a raiz da vida

Pois plantei amor para essa última refeição, e alguém regou-a-na com vômito!

E nessa lama, nós porcos, matamos por migalhas

Decepando cabeças divinas, gargalhando, com sangue nas mãos

Até que a punição chega e sobram apenas os ecos das gargalhadas

O algoz ataca bradando! Brada a morte no coração, assim: durma!

Devorados de dentro para fora, existimos? Sim!

Sentimos? Não! Estamos com a faca rangendo no pescoço

Para alguém simplesmente deslizar a lâmina e sorrir

Esse é o nosso arrebatamento! Essa é a glória dos porcos!