Manhã acinzentada
Nem todos os dias
É possível abrir os olhos
E mergulhar no tal
Do Era uma vez...
Chega um momento
Em que a realidade alça voo
E despenca sobre qualquer coração.
Ela se instaura de forma violenta,
Pisa nos sonhos mais singelos
Que com tanto amor e esperança
Foram construídos...
Arranca-nos dos braços da espera,
Da santa ilusão
De um dia ser feliz.
Chega de repente e transforma
Reticências num ponto final,
Que acaba por ser
Um ponto de partida.
Partida, despedida, saída...
São tantas idas
Que ao passar do tempo,
Os rastros desaparecem do caminho...
Ah! Se o “Era uma vez”
Fosse só uma vez mesmo,
Sinto que estaria protegida
Da insanidade de sonhar
E queimar no inferno da frustração.
Nossos sonhos muitas vezes
Instigam, castigam...
Tornam-nos fracos,
Fortes ou acinzentados...
Marionetes presas num redemoinho,
Encarceradas nas próprias aflições...
Somos seres solitários,
Repletos de tudo
E cheios de nada.