SENTADO

SENTADO

Sentado num banco

Brisando um tanto

Passa na praça

A graça

A desgraça

Varre a faxineira

Dos lanches a sujeira

Com uma grande olheira

De noite mal dormida

Ou quem sabe bem fornida

Embaixo do flamboyant

Dorme um drogado

Seringa ao lado

Sem amanhã

O casal de namorados

Ainda manhã

Beijos e abraços apertados

Num grande afã

O par de velhinhos

Olhando e querendo voltar

A ser namoradinhos

Os atletas sem pódio

Para caminhar mais um episódio

Da gordinha querendo emagrecer

Da magrinha querendo aparecer

Os sozinhos com seus pets

Aparentando gente com topetes

Guardando carros um moleque

Querendo ser valete

Um monte de cabisbaixos

Olhando pra baixo

Uma tela uma fuga

Da vida sanguessuga

Os taxistas que sabem de tudo

Da traição ao cornudo

Católicos saindo da igreja

Para que todo mundo veja

A santidade estampada

Numa mentira deslavada

O vendedor de água de coco

Faturando um pouco

Menos com o bebum

Que acaba de acordar

Já querendo beber mais um

Sentado na sombra

Aposentado alimentando pomba

Uma feira de orgânicos

Vendendo a descolados

Bastante afetados

Dando pinta de vegetarianos

Mães com carrinhos

Bebês com carinhos

Meninos e meninas no parque

Pais com fone não os ouvindo

Quem sabe ouvindo

Caetano ou Chico Buarque

E um monte de gente passando

Passando, com ou sem destino

Com olhar matutino

Pensando na vida

Na lida, na querida

Na dívida, na avenida

Que logo a frente

Conduz ao poente

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 23/10/2015
Reeditado em 24/10/2015
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