SENTADO
SENTADO
Sentado num banco
Brisando um tanto
Passa na praça
A graça
A desgraça
Varre a faxineira
Dos lanches a sujeira
Com uma grande olheira
De noite mal dormida
Ou quem sabe bem fornida
Embaixo do flamboyant
Dorme um drogado
Seringa ao lado
Sem amanhã
O casal de namorados
Ainda manhã
Beijos e abraços apertados
Num grande afã
O par de velhinhos
Olhando e querendo voltar
A ser namoradinhos
Os atletas sem pódio
Para caminhar mais um episódio
Da gordinha querendo emagrecer
Da magrinha querendo aparecer
Os sozinhos com seus pets
Aparentando gente com topetes
Guardando carros um moleque
Querendo ser valete
Um monte de cabisbaixos
Olhando pra baixo
Uma tela uma fuga
Da vida sanguessuga
Os taxistas que sabem de tudo
Da traição ao cornudo
Católicos saindo da igreja
Para que todo mundo veja
A santidade estampada
Numa mentira deslavada
O vendedor de água de coco
Faturando um pouco
Menos com o bebum
Que acaba de acordar
Já querendo beber mais um
Sentado na sombra
Aposentado alimentando pomba
Uma feira de orgânicos
Vendendo a descolados
Bastante afetados
Dando pinta de vegetarianos
Mães com carrinhos
Bebês com carinhos
Meninos e meninas no parque
Pais com fone não os ouvindo
Quem sabe ouvindo
Caetano ou Chico Buarque
E um monte de gente passando
Passando, com ou sem destino
Com olhar matutino
Pensando na vida
Na lida, na querida
Na dívida, na avenida
Que logo a frente
Conduz ao poente