Os crepúsculos dos dias

Os crepúsculos dos dias

P O E N T E I

Vou procurando no silencio das montanhas

Entre cores de um céu resplandecente

Algum tempo bonito pra chover

Entre os raios da ilusão no sol poente

U N A P L U M A

Silêncio no miolo da pedra...

Sulfúrico dissabor a suspirar.

Um velhinho e uma velhinha na porta...

Únicas vidas na distancia do lugar!

Entre as mais profundas cataratas das córneas

Demasiadas cenas

Entre o efêmero dia, com seu poente ao entardecer, doendo no silêncio das distancias.

Como uma ultima cor que leva seu gris e acende a estrela no céu.

(Celagem1)

Penumbras firmes enlaçadas no crepúsculo

Uns farrapos de nuvens escuras no poente.

Da cor das uvas pretas maduras

A última vermelhidão em ondas de calor

E os ventos que vem bailando poeiras.

Sombreados de noite os horizontes destilam longas formas

Riscos delgados na densidade das sombras.

(Celagem2)

Vede distante o crepúsculo, de inexcedível harmonia?

Nele o espirito imerge a tristeza da tarde evanescente e da noite invasora.

Luz abacinada no fim do dia...

Um enegrecer famélico, digerindo as formas que ardiam.

Onde matizes brilhantes divisassem...

Num vermelho horizonte de poesia.

(Celagem3)

As nuvens que chegam são o veludo tímido, e o vento é tímido em seus ruídos.

Um grande silêncio como um filtro, e a luz a enegrecer nas paredes do céu distante.

O gris na vastidão lívida e rubra do crepúsculo apaga minhas saudades.

(Celagem4)

Ao longe... Falésias ruídas

Florões de fogo

Mudas distâncias, onde o céu encarde.

O ruído do mar é desgastante

Enganam-se as vagas em malogro

Borbulha no sangue

Tristezas da tarde.

Destilo em pensamentos húmidos calores

Marés interiores

E o sol quase apagando no mar

Sangue de prata salgada sobre as aguas

Vermelhas no horizonte!

Passa quem vai e quem vem

Nas janelas do trem

Carregando a fadiga e o ócio

Do próprio corpo

Amem.

(Celagem5)

Lesto o dia começa escurecer

Fulgem ardentias flavas

Nuvens lucíferas

Dizem adeus

Mestas as sombras caem

Na flor crescida

Preâmbulo da noite

Crepúsculo

P O E M A Q U E M U N D I A O C H Ã O

Entreabertos os horizontes inalcançáveis

Riscos ligeiros em serras azuis quase apagadas.

Firmes capins ressequidos e arbustos cinzentos

Garranchos sedentos

Vestindo a paisagem.

Sertão de almas silenciosas

De flores escondidas

Onde os tabuleiros secos resistem incendiados

O moco derrama sua lágrima doído!

Nos sobrados das pedras um sonido

Apascenta o lamento solitário

Tudo é silencio turvo e cativo

Quedam gigantes serrotes de calcário

Crescem as torres sombrias nas planícies

Convergem-se crepúsculo em matizes

Aguas invadidas

Cemitérios cheios de mato

O sol se disfarça entre nuvens e novelos

Calam-se meus olhos imóveis prisioneiros

Longo silêncio da tarde insinuando-se

Atrás da crina negra das montanhas e cabelos

O capim cresce rasteiro em cores pastéis apagado

Curvado, deitado!

Ao afago do vento fatigado

E fosco e seco e empoeirado

Amarelecido!

O capim é quase sempre triste e esquecido

E os meus ouvidos tornaram-se prisioneiros do seu gemido!

Os meus olhos se prenderam num crepúsculo acendido

_que logo passa_

Nos salitres das paredes quase nuas

No vermelho entardecer que se desgasta

Sobre longas avenidas e outras ruas.

O U T R A P L U M A

O coração esta batendo!

O sangue anda nas veias e estaciona as escuras

Parece suportar o silencio sufocado da respiração!

Voam plumas negras no meu sangue...

Tingem-se de um vermelho escuro e distante.

Que pássaros se ocultam nestas paisagens do entardecer?

A C U M U L O

Meu poema encoberto pela plumagem desgastada desses dias...

Dias velozes Recolhidos como flores em buques.

O cintilar das horas pelo anil do céu...

O desbotar dos contornos e das formas.

O intervalo das folhas no desabrochar das estações.

Gestos prolongados e repetidos no álveo dessas águas a se entreter no caminho.

Urdindo crepúsculos e imagens num só olhar

Indistintas latitudes dos dias

Graves dias conformados em angustias e desenganos.

O sol profundo do entardecer em luzes raras.

Encardidas no trêmulo sonhar dessas cavilações.

O O P I O D O A N O I T E C E R

O tempo além das estrelas...

Antes do brilho e da chama que se fendeu

O tempo cravado no seio do infinito

Eu a ruir também

Estatua de areia

Sem gravidade

Sou pedra inteira matéria de chorar o mar nas falésias

A areia lavada dessa praia

E uma lua que finge solidão

Algo assim para eu desejar

Opio de Teerã para eu fumar num cachimbo.

Nas nuvens douradas os olhos de todos os anjos!

Num aroma de mato que vaza com o vento

Vento aromal vento quimérico

Lagos em silêncio parados

Vermelhidão sangrenta no céu do anoitecer

Fumos escuros são nuvens paradas diante do luar

Cavalos e bois no escuro do pasto parados

Uma febre terçã, na marquise de pedra do desconhecido.

Uma palavra qualquer cheia de desejos de morrer lá fora

Do que a viver pra sempre aqui comigo.

V E R S O A P A G A D O

Éramos almas apressadas no infinito...

Éramos o fogo dos vulcões mais imponentes.