Hiena
I
Eu serei a hiena
Cujas presas sujas
Cintilam em serena
Paz. Por isto, fuja
Carcaça querida, vá.
Cabisbaixa e frustrada
Engate a quinta na estrada
E siga para sempre. Quiçá
Lá na frente, afogueada
Ainda ouse olhar para trás
E me veja, feito hiena, a rosnar
E a tua imagem a desossar
Louvando ao deus do tanto-faz.
Por isto vá, suma, carcaça amada.
II
Eu serei a hiena
Que encimada no topo
Desta pilha enferma
De dissabores ri, louco
Rio da tergiversação
Ah, linda, doce inversão.
Contradição: rio e choro
O choro insano do logro.
Deságuo em secas lágrimas
Esvazio toda a minha essência
No pranto fugidio desse amor
Malfadado. Agora, ao rancor:
Da pura virtude à putrescência.
Hiena, cujo amor é seara árida.
19/10/2015