O CANTO DAS LÂMINAS
Todas as coisas afiadas cantaram
Uma sinfonia aguda e cortante.
Os gumes vibraram em harmonia
Ressoando o aço inoxidável
Ora cego, ora surdo, ora afiado.
O fio assobiante do corte
Mordeu o tempo moroso,
Mordeu a carne não comportada
Com notas de falsa cortesia.
Contudo, o corte fora limpo e preciso
Sem mácula ou desilusão
Matou de uma vez só, certeiro,
Sem derramamento de sangue inútil.
As lâminas continuam famintas
No seu tilintar de canto ao vento
Arauto para carne mole e viva
Ou fria em rigor mortis, o último rigor,
E outras coisas duras desavisadas.
Pois as lâminas quando cantam
Estremecem as altas nuvens
E o ácido fundo do poço.
Cortam tudo, absolutamente tudo
Diante do seu som desprovido de piedade.