Paixão Amazonas
Banhando na capoeira/
Olhando de lado o Guará/
Fim de tarde/
Cansado de pescar/
De tirar caranguejo do mangue/
Vi de vulto passar/
Não era um boto/
Nem uma montaria solta/
Senti um cheiro de açucena no ar/
Uma brisa mansa/
Com as vogas frescas a falar nas encostas/
Das tinteiras/
Que a harmonia estava no lugar/
Compenetrado no cansaço/
Quando o mormaço/
Se deixou levar por uma veia/
De chuva/
Com a vista turva/
Vi diante de mim/
Sem melhor identificar/
Uma mulher a me beijar/
Cantava tão suave/
Que a minha aura/
Por um segundo perdeu a sanidade/
Do lugar/
Começando a acreditar/
No que não sabia direito decifrar/
Se foi maldade/
Se foi destino/
Não sei explicar/
Ela ou sei lá o que/
Me fez na capoeira deitar/
O amor foi inevitável/
Pois o cheiro do seu corpo/
Inebriou- me e envolveu-me/
A beijar/
Num beijo a sentir/
A saliva meio Bacuri e Tacacá/
Dos sussurros ao proibido/
Fui levado a pecar/
Se foi castigo/
Deixa pra lá/
Mas depois daquele dia/
Aquela nativa/
Deixou-me completamente perdido/
Vagando apaixonado/
Pelas ilhas do Marajó/
Sem jamais encontrar/
Disseram-me pescadores/
Que eu me benzesse/
Que eu esquecesse/
Que foi mãe d’ água /
E que eu me desse por satisfeito/
Que ela só quis me amar/