ao sangue estancado

Ao sangue estancado

do livro Ansiares

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

O sangue dos tempos,

Ainda derramado sobre

As mãos cansadas

E seus doídos calos

Desmesurados de ser...

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

As vidas perguntadas

Não terão resposta

À dor de viver-se

Entre gritos e revoltas

Abafadas por lei.

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

As cotas partes

Foram distribuídas

Entre negros, índios

E párias da esteira

Deixada não ser.

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

Quem poderá mudar

A situação caótica

De conviver com

Autoridades caídas

Na inutilidade?

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

Até que mudem

Conceitos errôneos

De superioridades

Presumidas certas,

Erraremos muito...

Escorrendo as sobras

Permanecemos lesos

À memória dos açoites...

O sangue estancado

Sorverá as dores

Do corpo leso,

Não da alma, inda

Gritada por justiça.

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sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 19/10/2015
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