O Miserável

Vejo esse povo passar a minha frente/

Carregando a fome/

Na ignorância da fonte/

Consciente das suas faltas/

Já não questiona os direitos/

Vai se acostumando a nada/

Vai se acostumando apenas a servir o banquete/

Com os grilhões na lembrança do corpo/

Se não for escravo/

Assina inerte o testemunho dos açoites/

Segue inveterado/

Obedecendo a doutrina/

Como cego moribundo/

Segue fingindo que nada tem sentido/

Mesmo que a sua dor ampute-lhe os gemidos/

Mesmo que os seus filhos sigam perdidos/

Não é o sistema que impõe/

Mas os covardes que se subjugam/

Por se acomodarem ao que não parece nocivo/

Então se não és capaz de sair de ti/

Pra impedir/

Que a omissão consuma a tua alma/

Aconselho-te a celebrar a morte/

Pois que de tal sorte/

Vives apenas por viver/