Meu lugar no mundo
Sou Pedro.
Meu lugar no vasto mundo
é ser a pedra, o Carlos e o Raimundo.
Desde minha drumondiana idade
mastigar o real é dolorido;
dá dor de ouvido.
Nasci diferente:
no lugar da orelha
uma rosa selvagem de pele
(de carne) vermelha.
Ouvir é dolorido.
Na caixa de som da minha cabeça
é constante
que eu ouça um mundo meio ausente
onde o eco reverbera distante,
bem na minha frente.
Ver é dolorido.
Meu senso crítico vê
a perversa realidade
oca de solidariedade
pelo olho da TV.
Sinto que o caminho é bem comprido.
Sentir é dolorido.
Se protagonizo um papel e engasgo,
rasgo.
Pensar é dolorido.
Penso
e seco a lágrima no lenço.
Viver é colorido.
Vivo.
Ser alteridade
é propósito à toa.
E se eu for, na verdade,
a outra pessoa?
(Publicado originalmente em www.algoadizer.com.br edição nº 96 de setembro/2015)