ENTRECHO DE MUNDO

Puseram o nome de mundo ao nascer

Nascera a tanto tempo que esquecera

Que tudo que tem seu nome era sua propriedade

Particular só conhecera mesmo a palavra

Insana que foi

Andava com o nariz apontado à lua

Girava na rua sem medo

Em transe

Bailarina m/torta

Trancava os carros em trânsito com sua beleza

Imunda

Indomável era seu instinto de muda

Justiça só via em filmes

Voava com os pássaros o tempo inteiro

Brincava entre morcegos

Também nadava

Atravessava rios e mares

E pairava nas noites que não tinha lua

Rachava os olhos ao alvorecer

Deslizava os dedos dos pés por entre os grãos de terra

Que ali escavava devagar

Sob devaneios mundo vivia

Sobrevoando a realidade crua

Que insistia em se apresentar

Como quem precisa de um visto

Mundo não se vestia de imortalidade

Não obstante, renascia dia-a-dia

ao fim de cada tempestade.