A Noir tecer da noite
Anoiteceu.
Anoiteceu após a noite.
As luzes da cidade, sem conhecimento prévio, apagaram.
Anoiteceu e escureceu mais
Do que escureceria se fosse uma noite qualquer.
Escureceu. Eu via os olhos de Florbela olharem o escuro:
eles também enxergavam os meus, mais nada.
— Florbela, o que tu tem?
Florbela, Florbela, que tinha sumido. Florbela não sei pra onde.
Florbela desapareceu no Infinito.
Florbela, onde estás? Volte logo!
Viver sem Florbela era um suicídio!
Lágrimas se acumularam no seu cérebro,
no seu cérebro perdido e maltratado.
— Florbela? Florbela?
E o pensamento embargado sufocou.
Viver sem Florbela...
Viver sem Florbela...
Sem Florbela a luz, o escuro, todos os inventos humanos,
não eram nada... e este mesmo nada não existia.
Preparado para viver morrendo, abriu os olhos:
Era Florbela! Florbela!
A mesma Florbela!
Era Florbela! Florbela que tinha piscado os olhos
e sumido pela eternidade!
Florbela que agora acendia a cidade e o mundo.
E Florbela, alimentando a dor e o amor,
Sumia entre espasmos
E cada vez surgia mais bela
Nos olhos escuros:
era noite e anoitecia.