SEIO DE SANGUE

tudo se foi; o próprio odor das rosas

morreu nos braços do ar que as adorava.

Edgard Allan Poe

Este seio feminil que não dá leite,

Mas empedrado sangra dolente

Sobre as flores brancas e mortas

A beira da ácida sepultura

Que exala cheiro de lácteo azedo.

Este seio vernal escolheu a castidade,

A retidão e a abdicação; é penitente

Nato, antinatural, sem apego.

Sobram-lhe as moscas e feridas

Na pele lisa. Mastite contínua e triste

E por isso, chora sangue coagulado

Alimento dos santos mortos fadados ao árduo

Fardo de desaparecer sem deixar vestígios.

O sangue que pinga do alto seio

Lava os pecados do corpo virginal

Em purgação escolhida e bela

No intuito de a alma viver

Na Glória improvável das estrelas,

Como um amante que leva tudo

Numa abjeta promessa de amor.