Ipê-Roxo, meu amigo


Apeei do meu cavalo
Sob o ipê-roxo copado
Enquanto o Zaino pastava,
Eu fiquei acocorado
Imaginando o que sente
Um ipê abandonado

À sua volta é ermo
Desprovido de vizinhos
Somente terra e areia
Que açoitados pelo vento
Sufocam o ipê de poeira

Suas raízes grandes e retorcidas
Que brotam aqui e acolá
Esfoladas pelos cascos
Renitentes da vacada

Reina só o ipê-roxo
Distante de amigos e parentes
Que em seu tronco ferido
Chora resinas de dor

Levantei-me pra me ir
Quando ouvi um suspirar
De tristeza e comoção,

Sem jeito, escabreado
Enlacei o pobre moço
Dei-lhe um abraço apertado

O pobre se agitou
Por certo emocionado
Deu-me um banho de flor roxa
Que me deixou abobado

Bem, já lá vinha a noitinha
Assoviei pro meu Zaino
De um sarto sentei na sela

Dei tchau pro meu novo amigo
Que me retribuiu num muxoxo
 

– Tchau meu amigo, Ipê-Roxo!