A SÍNTESE

A SÍNTESE

POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE

Não foi eu quem fez o mundo; eu, mal consigo terminar meu dia. Minhas forças carregam meus fardos ladeira acima ou abaixo, pois, o destino dos meus passos é feito pelas escolhas de meus olhos.

Olhos que não se cansam de ver;

Olhos que se enganam com as miragens da alma;

Olhos que brilham com o prazer;

Olhos que se fecham quando há dor;

Olhos que se escondem nos cantos das órbitas oculares, olhos que são uma metáfora.

Sou uma alma que grita, chora, rir, celebra; se encanta, se atormenta, se espanta, se quebranta;

Alma que crer, e descrer; alma que é alguma coisa só minha mesmo sendo uma comunidade de sujeitos.

Eu, que me sinto alma vivente agradeço ao divino o dom de não ser.

Não sou nada além de mim, e tudo que sou é alguma coisa tentando, desesperadamente, ser qualquer coisa.

Ser o sentido do vento;

Ser o sentido do tempo;

Ser a poesia declamada, que afaga alma do mundo.

Ser o não-ser, ser a constante crise de ser não sendo, e não ser sendo quase alguma coisa na terra.

A terra que separa as almas,

A terra que as junta em abraços de afeto, ou as distancia pelas intrigas do dia.

A terra que brota vida,

A terra que é morte, e a morte é a minha última sorte.

Ai de mim se eu não viver vida.

Ai de mim se eu esquecer da vida.

Ai de mim se eu não amar a mim mesmo, mesmo odiando-me por não ser o ser ideal.

Vi um homem que criou para si um homem melhor do que ele.

Soprou em suas ventas sete sopros de vida.

Depois, o moço criador sentou-se para aguardar.

A terra rodou, rodou, e seu boneco ficou tonto.

Parecia um bêbado com mãos trêmulas solto no mundo.

O homem caminhou o que pode;

A ideia de nada adiantou,

Todos são o que são ou pensam que são, pois, o não ser é mais sincero que o ser ideal.

Entre a ideia e a pedra, reina a pedra.

Entre a pedra e a alma, reina a alma;

Entre a ideia e a alma, reina a ideia.

Eu sou uma alma cheia de ideias,

Sou uma caixa de surpresas,

Sou uma víbora dentro de uma gaveta.

Sou um pingo de nada na imensidão do tudo.

O tudo que não é meu e nem teu.

Não foi eu quem fez o mundo;

Nem o mundo me fez.

Sigo minha trilha sem saber onde vou; sem saber onde parar.

Não há possibilidades de negociar com as fatalidades,

O acaso é um absurdo, porém, é tão duro quanto a rocha.

A rocha que fere a carne, a carne que a terra come.

A terra come os homens, os homens comem da terra.

Não foi eu quem fez isso!

Sou apenas alguém que quase sempre está errado sobre tudo.

E quando acerto alguma coisa, logo, percebo que o que disse já foi dito por outro antes de mim. Assim, o meu dizer é de todos e os deles é meu também.

Viva o mundo!

Viva a saga chamada vida!

Viva enquanto podes, pois, mais tarde quer queiras ou não será apenas uma peça de necrotério.

Essa é tua benção mais sincera,

Essa é tua hora derradeira;

Esse é o verdadeiro sentido de tudo, a tua síntese, o depurar de tuas horas.

Não te apresses, quer queira ou não tu vais embora....

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 09/10/2015
Reeditado em 30/10/2016
Código do texto: T5409328
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