MARILYN MONROE E AS PONTES

 
Oh damn I wish that I were
dead -- absolutely nonexistent --
gone away from here -- from
everywhere but
how would I…
There is always bridges --
the Brooklyn bridge…
No, I love that bridge
(everything is beautiful from there
and the air is so clean)
Walking it seems
peaceful
even with all those cars
going crazy underneath.
So it would have to be
some other bridge,
an ugly one with no view -- except
I like in particular all bridges --
there's something about them, and besides

(Marilyn Monroe)

 



Sempre gostei muito
de Marilyn Monroe
o motivo eu nem bem sei
mas é motivo que passa longe
do estereótipico gay
do gosto burlesque
e da tara por pinups
talvez goste dela
por ela ser
um ser
cheio de não sei

o execrável Hugh Hefner
que quis para sua vida
pequena vida
um inferno
com seu corpo
ganhar vil dinheiro
mas algo fez
pois tirou do que é obscuro
comprando por nada
visando grana
o que existe de puro
no nu da fotografia

beleza beleza
corpo diáfano
em fotografia
numa cama
se estende o corpo
num lençol de cetim
vermelho vermelho
ela ela ela em diagonal
feito Maja desnuda

existe ingenuidade pura
de menina que diz
com Billy Wilder
refrescar a vagina
colocando a calcinha
no freezer
de um geladeira
ingênua e inteligente
e quem viu foi somente
Arthur Miller
que não aguentou
e a amou
com todo
seu cérebro

mas o mundo tem
seus cérberos

que fez Andy Warhol
ver nela ícone pop
de uma sociedade industrial
mercadoria clonada
em standard embalada
vendo-a comerciada
vendida
numa prateleira
de supermercado

como também fizeram
John Kennedy
Joe DiMaggio
e Darryl Zanuck
todos poderosos tubarões
da política, do esporte
e da 20th Century Fox
que por falta de delicadeza
a transformoram em carne
exposta em delicatessen
disposta às bocas
vorazes
de todos os cérberos

pouca gente sabia
mas Marylin
era poesia
que dela e nela
escorria escorria

e
s
corria

de sua mão fria
fonte de beleza
e de pureza

Marylin gostava de pontes
de onde muita gente puluva
como na ponte do Brooklyn
entre Manhattan e Long Island
ela muito triste
até à ponte iria
não sei se para
a paisagem olhar
ou se para dela pular
mas na ponte
Marylin descobria
de como gostava
especialmente daquela ponte
ela certamente sofria
queria aprender ser gente
sendo uma atriz
que aprende fingir
como se de verdade sentisse
no "Actor's Studio"
consumindo Stanislavski
sob dura regência
do severo Lees Strasberg
ela menina ficava triste
é quando morrer
vira uma boa ideia
e boa ideia
para quem quer
abandonar a vida
em Nova Iorque
é pular  da Ponte do Brooklin
mas ali em cima:


"I like in particular all bridges --
there's something about them, and besides"


dali de cima
a paisagem
e do outro lado
a possibilidade
que era o Brooklin
ela amava aquela ponte
como a todas as outras
pois pontes tem algo
profundo e sem nome
e na outra ponta
a possibilidade
para onde se ir e ficar
para assim abandonar seu
antigo lugar viajando para o morrer
que cria aquela vontade de

p
u
l
a
r

Marilyn é poeisa
não pulou
escreveu o que sentia
escreveu poesia
pontes não são para se pular
são para se amar
assim como
todas as outras pontes
até mesmo aquelas pequenininhas
lá no interior de Wisconsin
ou de Minessota
ponte é liame
união
intersecção
de um lado com outro
ela é a sublimação
da humana aspiração
de ficar junto
de viver sem separação
quem é poesia
ama as pontes
e não quer destruir
sua paisagem
e suas possibilidades
delas saltando
no meio do vento
que a atravessa
e balança
quem não gosta de pontes
os suicidas
que perderam
tudo que é poesia
 a guerra
que as explodem
porque guerra
quer destruir
e dividir
a política
que gosta
de separar os EUA do México
os crus interesses do capital
que só gostam das coisas
que permitem fluir lucros

se um dia
o homem desaparecer
ficarão as pontes
e em cima delas
os versos ternos
dessa moça caipira
que gostava de pontes
e que se travestia
em poesia

ingênua e diáfana
como aquela poesia
estendida numa fotografia
Marilyn não destruia
o que era beleza
sim construia com palavras
inefáveis e infinitas pontes
com seus materiais
impossíveis
por onde se permite
transitar a leveza

Marilyn morreu
triste e abandonada
por pessoas que não sabiam
o que era beleza
nem o que era poesia
nem o que era ponte

quando Marylin morreu
morreu uma fonte
por onde jorrava
tudo que era
ponte