O sonho irrompe

o sonho irrompe

nas madrugadas

trêmulas

de imagens tardias e leves

germina, anoitece

tateia lembranças,

esquece

o sonho derrama-se ou cai

e rescende

como fruto maduro e doce

o sonho

convulso ou brando

se desnuda

em outra clara realidade

e se move

trazendo

das ilhas

que se desprendem dos mares

calmas ou aflitas

a sombra do humano espelho

imagens que nunca vi

aonde o tempo ainda não chegou

e os caminhos circundando o mar

não guardam os passos das pedras

nem o amanhecer dos gritos

pendoados no ar

mas o mar,

há tanto tempo,

vai-se embora daqui

na penumbra infrangível

e encantada das tardes

levando o dia,

levando o dia,

até que a noite cresça

aprisionando a luz

até que a noite desça

pondo no céu

outra alegria,

outra alegria...