Teu nome faz os pássaros dizerem versos

o silêncio coleante e forte do inverno

enlaça as mãos vazias do dia

saindo delicadamente da noite esvanecente

acordando o destino da rua cativa deserta

adormecida entre recordações

e volteios do passado

pousa nas árvores derramando

folhas alaranjadas dentro dos lagos vermelhos

o sereno caminha pelos galhos secos

o vento suspirando a noite em seu fim

recorta cores e põe retalhos coloridos na aurora

se elevando no horizonte entre delicadezas e acalantos

um sol,

incipiente e inconcluso,

toca o ar ainda frio,

tremelicante

e sonolento

espreguiçando

esfregando os olhos

diante da irrealidade inapreensível de um novo dia

as cores escorrem do ocaso para dentro da sombra

coligindo vidas tardias,

rasgando tempos e dores

semeando mares

e portos desmesurados de amores

ensinando o caminho aos rios

que te esperam

onde a ausência mais fala de ti

a aurora

clareia a manhã e suspira

ateia fogo ao céu

e no telhado das casas mudas.,

miúdas

e impávidas

os ares,

translúcidos,

ressoam as primeiras palavras

que roubam ao silêncio do dia

e de sacadas que apenas espiam

as últimas estrelas balançando na noite indo embora

esboçando aqui e ali um rosto posto em alguma janela

admirando os pedaços de dia que a luz vai desnudando

e sobrepondo sobre os outros dias de lento esquecimento

por onde se insinuam os pássaros

invisíveis entre a folhagem

só o canto é grito e instante

entalhando a manhã do infinito dos dias

a lembrança dos teus lábios

ata-me aos barcos e aos mares inertes

sem sopro de vento que os mova

e sinto cair,

gota-a-gota,

a saliva do beijo que por não ter sido dado

é só memória

nos meus lábios entreabertos,

na minha boca irremissível

que pergunta pelo teu nome

e teu nome faz os pássaros dizerem os versos

que faço para ti

sem que tu saibas

e os dirão sobre os segredos e as ternuras do teu corpo

que de ti ainda não sei

ainda é meandros e sonho beijar as tuas mãos

tocar a inocência do teu nome e a tua beleza

deusa que és de toda a graça morena

flutuas sobre mim quando tu passas

e o meu mundo se refugia e abriga-se nos teus passos

e o ar em torno é um só soneto com cores e aroma de açucena