MINHA INFÂNCIA
Na infância, eu ouvia,
“não faça isso, não faça aquilo”
Mas eu, moleque traquino, fazia.
Subia em árvores, cuspia no chão,
Espiava as meninas, roubava doces,
E o homem da mercearia, ainda assim,
Me chamava de garoto.
Moleque da rua, moleque da chuva,
Corria descalço, fazia barulho.
Minha alma era feita de lama.
Colhia fruta no pé, sofria de dor de barriga,
Tinha lombrigas, tinha piolhos,
E os olhos espiando sempre para frente.
Encarava quem fosse maior,
Não tinha medo, nem dentes,
E nas mãos, marcas dos acidentes.
Reinava absoluto
Em um quintal imenso,
E quando penso nesses dias,
A saudade chega forte
Como o vento do Embaré.
Mas a casa, ninguém destruiu,
Sequer o tempo, que é tão malvado,
Cuidou de deixar marcas no meu rosto,
Mas nenhuma no passado.
Ainda não cresci, não por dentro,
Tenho janelas nos pensamentos.
Meus desejos permanecem,
Vivos, como o sabor do chocolate,
E adoçam a minha vida
Como se a infância
Ainda respirasse em meu peito.
Eu, sujeito criado nas pedras,
Pisando em cacos de vidro,
Com os ouvidos sujos
E as unhas negras,
Cresci, sim, como todos crescem,
Mas não sigo regras.