Amanhecer!

Amanhece também nos abismos,

Onde planam aves descompromissadas,

Que não se perturbam com a mansidão do nada,

Com a agudeza do abismo a sua frente,

A sua cara!

Amanhece em todas as estradas,

também naquelas não trilhadas,

naquelas deixadas ás costas,

e naquelas apenas imaginadas!

Naquelas que levam ao abismo,

que terminam no fundo do posso!

Só não amanhece no fundo do abismo,

na campa onde se deitam ossos, para nunca mais!

Apenas há escuridão do engano e da dor,

talvez um lampejo de consciência tardia!

Há dias em que não se pensa mais!

Posto isso, luta...

Que a vida é bela,

e o amanhecer não amanhece

eternamente sobre a mesma dor!

O tempo, a vida, talvez tão iguais, nunca se repetem!

30/03/84