MATÉRIA - PRIMA

Era a água vestida de vento e sal

e o mosto amargo

parecia vinho velho

batendo nos escolhos.

O cais traduzia o canto triste do vento

sobre as quilhas,

ferrugem sob amarras e suportes.

Chora o mar a canção desesperada,

e o recantar gira na boléia

de antigas carruagens.

É ácido e tardio o cursor de águas.

Só os sinos, macabros,

xingavam suas clausuras

sobre selas de mar,

e a catedral rangia antigos gonzos

de frios e pedras.

Nos barcos, ao largo,

pescadores aguardam

o pão de cada dia

entre rezas, xingações e cachaça.

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 78.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/54039