SEMÁFORO AMARELO
Piso a faixa de segurança.
Paro.
Confiança.
É preciso atravessar...
e eu sempre olho para todos os sentidos.
Acelero os batimentos,
mas ninguém me ouve.
O peito aperta, a poluição degenera.
Ouço uma canção que já conheço...
O filme passa, eu recuo.
Volto, escrevo de mim.
Faço poesia, sem rima.
Me arrependo, enfrento.
Aguardo o tempo que passa distraído,
Algo aflito.
Olho o sinaleiro.
Mais uma vez.
A vida é coleção de vezes.
O amarelo brilha...mas arrisco outro passo.
Alguém buzina, me imobiliza.
E grita:
"ô dona..vê se se enxerga, quer morrer?"...
Não, não quero.
Ensaio uma resposta a mim.
"É que ninguém morre morto".
Ainda bem!
Passa um indigente.
Um camelô lamenta a não venda
a dos próprios sonhos!
Crise, alguém fala nela.
Vejo um lixo cósmico,
odor fedorento do abandono.
Mais uma árvore ruiu...em mim.
O ar pesa.
O sinal, desespera, pulsa amarelo.
Desesperadamente... também aguardo.
Canso.
Convulsiono em versos.
Meu corpo gela, o coração acelera.
Castigo pelo que não se pode ter.
Fumaça na sina imediata:
Psicose e antracose.
Não há escolha.
No laboratório,
Uma célula vive ansiosa
de existência preciosa.
Fotografo a espera pela vida.
O semáforo muda de tom.
Abriu?
É que em segundos, a vida passou por ali.
Torço pelo verde...sempre.
Mas o vermelho me imobiliza
o sentido...e o perigo
de toda poesia ardilosa.
Mais uma vez, fujo dum verso branco.
Dispenso a faixa de segurança,
Não se vive de poesia algemada.
Suada sina de se ser sempre assim...