ERREI DE SANTO
Sol de rachar brotou
A colheita se perdeu
É o jeito repartir
Com vizinho dividir
O pouco que sobrou
Essa secura todo ano
Arrebenta nosso plano
De a vida melhorar
Tem uns pedaços de país
Que as gotas de céu se junta
E fazem tanta enchente
Que os olhos de gente
Que nem a gente
Se põem a lacrimar
Pois de novo, de repente
Veem a vida despedaçar
Sem saída nesse beco
Uma sinuca de bico
O sertão está todo seco
Também quase o Francisco
Mas lá longe do rio
Sem aviso, cai granizo
Morre criança de frio
Já pedi pra Santa Clara
Santo Antônio pus no sol
Cruz de cinza no quintal
Pra ver se a secura para
Bate dúvida no pessoal
Qual terá sido o pecado
Pra tanta chuva de um lado
E no outro nem sinal
Água demais prum canto
Noutro nenhum respingar
Não é por falta de oração
De promessa, de procissão
Acho que o céu se atrapalha
Ou então errei de santo
Na hora de rezar?