Marabaixo
Mais do que o mar/
Uma onda calada a falsear/
Trazia aos portos de Macapá/
Negros de outras terras/
Pra erguer São José/
Valsava sob um luar noturno/
A dor na esperança da liberdade/
Dos cativos sem lar/
A lembrar no colo da noite a ninar/
Mãe velha contava ao filho/
A saga de uma tribo/
Que feito em desterro/
Veio aqui construir a Fortaleza/
A origem de um povo/
Saudades, sangue, suor /
Injustiça humana e amor/
Nas partituras/
Dos grilhões que agrediam/
Impiedosamente o orgulho e os sonhos/
Ferindo pés e mãos/
Privando o corpo e a alma pela força/
Onde a ignorância versava luz/
Também se escrevia o algoz com chicote/
Que em sangue se escrevia a poesia/
Que a voz anônima em sua língua materna /
Entoava em lágrimas de agonia/
Os Dissabores dos maus tratos/
Cujo conformismo remediava/
O que não tinha como mudar/
Assim se fez batuque/
Que se fez em mulheres, ao redor da fogueira a girar/
Domando a arrogância/
Com a dança/
Num gingado de roda/
Que os verbos da boca devidamente harmonizados/
Não paravam de versar/
Vai, vai ver Itumbiara/
Erê/
Ungazum faz nascer/
Sinhá moça/
Lerê/
Nessa hora só o que se quer ter/
Não é a roupa/
Que só veste o corpo/
Nem uma casa grande pra servir/
Nem uma senzala decente/
O que se quer aqui, é viver/
Reconhecidamente como gente/
Sendo da liberdade/
O brado de iguais/
Nessa pátria/
Cujo amor/
Desde os pés foi tatuado/
Como raiz/