Eu, quando?

Escrevo aqui:

Nada se movia sob o céu inacabado

ainda sem cor,

mas que será azul quanto estiver pronto

E afirmo:

São inexistentes as horas de onde pendem

o mistério e o azul do céu!

O rumor dos ponteiros escalavra a ilusão infinita

de um tempo escondendo-se, escoando

e ecoando dentro de mim

treme e me embosca

me arrosta

o tempo introjetado não me deixa sozinho

encurrala-me no matraquear incessante

do tartamudear delirante e mentiroso das horas

angústia inventada,

invertida

vértice de tanta loucura,

artífice de tanta paúra

já criada e aceita ao longo dos tempos

pelas mentes sombrias do homem

o tempo

caindo,

caindo,

indefinidamente,

caindo...

entrementes

tolhendo os dias tão claros onde eu canto para ti

pervagando as noites escuras onde eu te amo

relutando letárgicas lutas sustentadas

pela miscelânea que abriga passado, presente e futuro

na mesma cela, da mesma prisão

e, então, o tempo é tão inútil

quanto os olhos procurando-me no espelho

onde vejo uma imagem que suponho ser eu

Mas, eu quando?

Eu no passado?

Eu no presente?

Ou eu no futuro?

se o tempo é fluxo escoando ao longo dos momentos

e não movimento

sombra do infinito aprendendo gestos

Meus passos caminham o que fui

o que sou,

o que serei

meus passos caminham chãos e sonhos

trago palavras doces e maduras

e vinhos bêbados

e flores suspirando aromas que,

pela sede e pela fome de tanto te amar,

nunca,

jamais te entregarei