COMPASSO DAS PRIMAVERAS

Ao me decantar...

De forma tão imprecisa

Nas fumaças da avenida

Na poesia consumada,

Na estrada não traçada...

Em cada veio da vida

Na molécula do ar...

Na rima mais precisa,

No grito de socorro

Todos eles já em coro!

No pássaro cantante

No ocaso do horizonte

No acaso inquietante...

Na corredeira dum rio

Em cachoeira de saudade,

Na lágrima da realidade!

Ao me decantar,

Na pedra do caminho

No vento em redemoinho...

No todo tão sozinho,

Dum mar rubro sangrante

Da inconsciência delirante!

Num poema improvisado

No corpo esquartejado

Pelo frio de vil propósito,

Deste mundo tão inóspito...

Na promessa mentirosa

Na criança abadonada

No meio fio da calçada,

No tempo decorrido

Todo ele já perdido

Sem sequer ser percorrido,

Ao me decantar em verso

Qual segredo dum poeta

No vão da rima mais secreta

Eu sou lira que desperta...

A mesma flor sempre a espera

De abrir novas janelas:

Compasso das primaveras!

Nas veredas de outras telas.