POBRE CORAÇÃO
Nas horas em que estou só,
Estou completamente eu.
Seque me reconheço
Assim como estou e sou.
Escrevo versos,
Como se nu estivesse,
Deitado sobre a areia, de braços abertos,
Absorvendo o magnetismo da Lua.
Sinto em meus dentes um desejo de carne
E em meus olhos,
O melhor sonho da nudez feminina.
Mordo os lábios, em ambas as partes,
Até que o sangue passeie sobre a língua,
Que mingua noção de prazer...
Penso ser o que nunca serei,
E brinco de “que assim seja”,
Quem não concordar em me servir,
Que me conceda a vontade de imaginar.
Quando estou só,
Estou amplamente vazio
E ao mesmo tempo,
Repleto de pensamentos.
Ouço o vibrar do vento
Roçando nas folhas da goiabeira
E o doce delírio faz minha cabeça girar.
Posso até viajar, ir para Londres,
E na neblina espessa
Escrever meu nome.
Erguer as mesmas torres
Que se tornaram ruínas.
Compor em qualquer idioma,
Roubar diplomas, requerer cargos,
Ter muito, e pouco precisar,
Além de duas mãos para redigir
E duas lentes para olhar.
Neste momento
De universal solidão,
Posso até ouvir bater
O meu deserto coração.