Crime
Na capa do caderno de uma mochila furtada no terminal rodoviário, lia-se :
Que me levem os cartões e os itens de benefícios materiais.
Se me levam o smartfone, o dinheiro vivo, os eletrônicos modernos,
não me levam tanto quanto se me levam a palavra.
Que faça bom uso de tudo, mas a palavra é minha.
Trate de devolver a poesia, que essa não se retira nos caixas eletrônicos,
nem compram as cédulas contaminadas ,
tampouco repousam elas na tela do Smartmundo.
Que me roubem o tempo,
a racionalização de tudo.
Que me levem o dourado, o couro, as horas falidas diante do vazio de tudo ,
mas a poesia, devolva.
Não se pode ter o sonho do outro,
a ânsia do outro,
os abismos e as pobrezas mais íntimas de quem nem se conhece.
Leva a carteira e as posses vazias.
Mas deixa, deixa por favor, a poesia.