Crime

Na capa do caderno de uma mochila furtada no terminal rodoviário, lia-se :

Que me levem os cartões e os itens de benefícios materiais.

Se me levam o smartfone, o dinheiro vivo, os eletrônicos modernos,

não me levam tanto quanto se me levam a palavra.

Que faça bom uso de tudo, mas a palavra é minha.

Trate de devolver a poesia, que essa não se retira nos caixas eletrônicos,

nem compram as cédulas contaminadas ,

tampouco repousam elas na tela do Smartmundo.

Que me roubem o tempo,

a racionalização de tudo.

Que me levem o dourado, o couro, as horas falidas diante do vazio de tudo ,

mas a poesia, devolva.

Não se pode ter o sonho do outro,

a ânsia do outro,

os abismos e as pobrezas mais íntimas de quem nem se conhece.

Leva a carteira e as posses vazias.

Mas deixa, deixa por favor, a poesia.

Talita Fernanda Sereia
Enviado por Talita Fernanda Sereia em 25/09/2015
Reeditado em 17/01/2018
Código do texto: T5394611
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