É natal em Campos
A avenida sete de junho parece um rio de gente.
É gente de todo canto e de toda cor.
São faces sorridentes, ou olhares de dor.
É natal em Campos;
O gado continua no pasto;
O povo permanece crendo, pois, no sertão, acreditar é vício.
Ainda vejo um “cariri” envergar seu arco.
Ainda existem “negros” nas senzalas.
No comércio da cidade, as calçadas tem o piso liso.
Feliz de quem nele não escorrega.
Se você me saudar, dar-te-ei um abraço, um sorriso.
Isso é coisa que não se nega, mesmo, se no estômago a comida estiver fria.
É o resto da fome do dia;
É a flecha que ninguém pega.
É uma noite sem lua num sertão sem pão.
Para muitos, o natal de Campos não tem esperança.
É natal e Papai Noel de papel.
É uma alma que se cansa.
Uma caçada sem presa, só pressa.
E ai de quem nela tropeça.
É natal em Campos;
Carros de som pela cidade espalhados;
O povo em todo canto de radio ligado;
Mensagens de felicidades nos intervalos comerciais.
Isto é Campos; é terra de cristãos.
Somos irmãos; compartilhamos do mesmo chão.
O chão do sertão.
Do sertão de Peão, de São João, de vaquejada, de banhos na barragem, de missas aos domingos, de imposto de renda, de tiroteio na rua, de gente nua em vestidos de gala.
O sertão tem veredas e encruzilhadas cercadas de fazendas.
É natal em Campos, a vida continua.
É uma corrida sem volta.
É uma viagem de ida.
É a sorte tua, que por nada ninguém troca.
É natal em Campos.
É natal no sertão.
É tempo de presentes, de abraçar os parentes depois de um dia de sol quente.
É natal em Campos de Rio Real.
É missa do galo.
É Ave-Maria.
É ambulância na estrada com uma vida aflita e uma verba vazia derramada como água no copo de poucos.
É madrugada em Campos.
É noite calada.
É boca cerrada de medo ou covardia.
É natal em Campos;
É Real...