O espelho e eu
Sinto o cheiro de gente nas ruas. Andar entre as pessoas não me é mais um constrangimento.
É um desejo realizado, um sonho plasmado nas calçadas urbanas.
Não vivo sem ti,
Não existo sem você.
Um pedaço de todos está em mim; uma palavra das almas humanas ecoa das cavernas de meu eu.
Sou o que sou mais todos que conheço e não conheço.
Sou uma pedra de tropeço, um espinho cravado em teu pé, sou teu irmão.
As muitas faces que vejo, os rostos que encontro, o sorriso ou o choro de espanto são tudo marcas da hora; são fibras tecidas nas minhas entranhas, são árvores da mesma floresta.
Toda madeira seca será queimada!
Isso eu ouvi quando menino.
A trapaça da vida não me isenta das chamas do futuro;
Nem do purgatório prometido pelos puros.
Somos uma massa fermentada pelas ideias alheias.
Somos bruxos convertidos à cruz, mas, nunca esquecemos o pentagrama e seus elementos.
Somos uma boiada que caminha no mesmo pasto;
Somos uma manada de porcos que teme aos homens e o frigorífico.
Ando convosco, contudo, nem sei pra onde vou;
E quando parado, delírio meu e teu, não sei onde estou.
O outro atravessa minha trilha diurna sempre avante, seus passos nunca cessam e nem suas mãos se cansam de fazer.
Todos os dias os homens plantam sonhos e se esquecem pela força da lógica das cidades.
Tenham piedade!
Sou mais um sonhador!
Acordei cedo esta manhã e o mundo estava vazio.
Olhei para o espelho do banheiro, e eu não estava lá...