fatiota

Venho emprestar-lhe ouvido

Venho emprestar-lhe ouvido,

Treinado ouvir passarinhos

E não fuxicos levianos...

Quero pedir-lhe que, ao ler,

Ouça sua voz de dentro recitando

As palavras contidas na mastigação...

Quero desenhar com letras góticas

A minha premente indignação

Frente ao desvio das conversas

Não ouvidas como foram ditas,

Apenas ressentida estar muda

Frente à acareação dos males...

Que partida é essa que me parte?

Que forqueadura em nosso nome

Se reparte em intenções baratas?

Entre as bolhas desse sabão

Inverto as ordens da ordenação

E fixo o olhar no seu olhar:

Que expressão é esta,

Que não temos mais?

Sergiodonadio.blogspot.com

Editoras: Saraiva, Perse,Clube de Autores, Amazon

No imperceptível som da alegria

Voa entre galhos folheados,

Leva o som dos ramos ao real

Para a filigrana do etéreo

Sentir-se no invisível mitral...

Sabe que seu som, inda fraco,

Pode ser murmúrio e fadar-se

Entre muros e galhos e florada

Enfim visitada pelas máscaras

Que se fazem boas conservar.

Seu sussurro sobe as pedras

Confunde a água escorrida.

O silêncio é o limiar do dia

Funde-se ao som da manhã

Fria ostentando a brisa...

O silêncio

É o limiar de um galho

Quebrando em sua mão

Quando você tenta riscar

Um nome sobre a pedra,

Assim os nomes ausentes

desemaranham alarmes,

E para você se afastar,

Pensativo, tornar de lá

Sem deixar de ser motivo...

Apenas a palavra meada,

Que deixou de escrever,

Volta-se agora contra si,

Estranhamente repulsa

De já não ser.

Racionada

O custo da memória

Divide-se entre

Saudade e remorso...

Repartida apenas

Pela consciência

De vencer a derrota.

O custo da memória

Sua as dores da alma,

Deixada em desacordo

Com a real saída

O custo da memória

Extrai vidas...

Fatiota

Cresço

Quando me encontro

Igual ao que fui ontem...

Desperto desse sonho

Procuro-me nesse ato

Descompromissado

De viver-me pleno...

Cresço quando

Me desencontro

Do que deixei

De ser ontem.

Assim posso ser-me,

Confortável em mim,

Ligeiramente folgado

Nesse corpo ancho

Onde me espaço

Ser.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 23/09/2015
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