Lembranças da vida passada
Lembro quando íamos
cuidar dos cavalos no pasto,
e eu pouco entendia do mundo
e de tudo que há nele.
Eu era feliz indo pra roça
todos os fins de semana
naquele escort azul velhaco.
Fazem dez anos.
Dez anos que a vida
em alguns aspectos
parece não mudar.
Foram-se os anos.
Eu sei que nós mudamos.
Nos afastamos.
Mas eu ainda me lembro
daquela história épica do natal
com a Cacau.
Desculpa, é que eu não sabia
olhar as horas,
a não ser naquele relógio digital
que ficava no quarto principal.
Talvez fosse essa a minha preocupação:
Não saber olhar as horas.
Ser péssima em geografia e história,
e sim, eu odiava educação física.
Bom, vejo que algo não mudou nesses dez anos.
Mas, o que aconteceu com a gente?
Parece uma falha genética
que compartilhamos nessa solidão familiar.
Lembro que tinha medo da vida
e com certeza ainda tenho.
Tantas perguntas
de dez anos e mais atrás,
outras mais novas,
e todas,
todas todas:
sem respostas.
Ainda tenho os mesmos olhos,
só não o mesmo olhar.
Meu olhar talvez seja mais triste.
Os olhos são os mesmos
os mesmos que contavam os fusquinhas
azuis que passavam do outro lado da rua.
Hoje quase já nem vejo fusquinhas...
Hoje quase já nem vejo a gente...
Hoje quase já nem vejo...
- por escolha minha.
- aprendi que pra sobreviver,
às vezes, é melhor não ver.