O SILÊNCIO QUE NÃO SE OUVIU
Como nunca antes se viu,
no breu duma era abissal,
uma bolha de silêncio flutua.
Erguendo-se equilibrada na ponta
de uma longa trompa fecunda
o silêncio é a semente do que será.
Sem par, em perfeita solidão
o silêncio era visgo de piche
era goela sem boca
organismo vivo, puro viço.
O silêncio era um corpo feito de olhos,
era silêncio como antes nunca se viu,
era boca emudecida de mãos em prece.
Sem dar notícia de nenhuma superfície
o silêncio eclodiu segredos do abismo
e no ermo profundo depôs o estandarte
da verbo sem carne, do caule sem flor.
Eis que da pálida cor
o silêncio dá à luz,
no lamaçal abre-se
lótus para o mundo
alinhada longa haste
desabrocha o amor.
Baltazar