O SILÊNCIO QUE NÃO SE OUVIU

Como nunca antes se viu,

no breu duma era abissal,

uma bolha de silêncio flutua.

Erguendo-se equilibrada na ponta

de uma longa trompa fecunda

o silêncio é a semente do que será.

Sem par, em perfeita solidão

o silêncio era visgo de piche

era goela sem boca

organismo vivo, puro viço.

O silêncio era um corpo feito de olhos,

era silêncio como antes nunca se viu,

era boca emudecida de mãos em prece.

Sem dar notícia de nenhuma superfície

o silêncio eclodiu segredos do abismo

e no ermo profundo depôs o estandarte

da verbo sem carne, do caule sem flor.

Eis que da pálida cor

o silêncio dá à luz,

no lamaçal abre-se

lótus para o mundo

alinhada longa haste

desabrocha o amor.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 23/09/2015
Reeditado em 30/05/2017
Código do texto: T5391752
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