Tangos e tragédias
Parti para uma viagem
guiando meu "Silverado"
cheguei à uma barragem,
a vislumbrar a paisagem
de um dia ensolarado
da imensa terra desnuda
Ainda dentro do carro
minha mente se esvaía
enrolei mais um cigarro
fiquei por ali fumando
e a fumaça que subia
acalmava a mente confusa
Liguei um Rock'n Roll...
Aquela canção do Queen
o meu pesadelo acordou
trouxe de dentro de mim
remeteu-me àquele dia
que a consciência me acusa
E o devaneio bizarro
a imagem se reconstruía
como receber escarro
a alguém que pedia esmolas
uma imensa escara eclodia
de uma ferida miúda
Cumpri a minha sentença
de autor de bárbaro crime
tive como recompensa
a eterna dor que suprime
o preço da melancolia
de perder minha doce cafuza
Tive até pena de mim
e mesmo um arremedo de ateu
se é que ele existe, enfim
despi das indiferenças
decidi rogar por teu Deus
Quem sabe ele me acuda
Das tantas idas e vindas
nas noites da "Belle de Jour"
tocava uma música linda...
um belo Rhythm"n Blues
vi meu velho camafeu
alfinetado à tua blusa
Você estava apaixonada
por quem te deixava contente
e do amor de cebola cortada
meu choro era intermitente
sofri ao te ver dançando
de uma dor tão graúda
Fiquei só e entristecido
a dor é perpétua prisão
triste e arrependido
ante o peito que sangrei
implorei por teu perdão
e a insanidade absurda
Hoje sou amaldiçoado
e a tortura do tempo
é a minha boneca vodu
todo dia revivo o momento
como um eterno "de javu"
a lembrança que não muda
Hoje não mais sangro
e disfarço uma felicidade
e com esta letra de tango
estou indo pra Buenos Aires
curar as insanidades
e a perda da minha musa.
Enfim , acabou o cigarro
despedi-me da barragem
liguei novamente meu carro
o meu velho "Silverado"
tomei de novo a estrada
na imensa terra desnuda