Tangos e tragédias

Parti para uma viagem

guiando meu "Silverado"

cheguei à uma barragem,

a vislumbrar a paisagem

de um dia ensolarado

da imensa terra desnuda

Ainda dentro do carro

minha mente se esvaía

enrolei mais um cigarro

fiquei por ali fumando

e a fumaça que subia

acalmava a mente confusa

Liguei um Rock'n Roll...

Aquela canção do Queen

o meu pesadelo acordou

trouxe de dentro de mim

remeteu-me àquele dia

que a consciência me acusa

E o devaneio bizarro

a imagem se reconstruía

como receber escarro

a alguém que pedia esmolas

uma imensa escara eclodia

de uma ferida miúda

Cumpri a minha sentença

de autor de bárbaro crime

tive como recompensa

a eterna dor que suprime

o preço da melancolia

de perder minha doce cafuza

Tive até pena de mim

e mesmo um arremedo de ateu

se é que ele existe, enfim

despi das indiferenças

decidi rogar por teu Deus

Quem sabe ele me acuda

Das tantas idas e vindas

nas noites da "Belle de Jour"

tocava uma música linda...

um belo Rhythm"n Blues

vi meu velho camafeu

alfinetado à tua blusa

Você estava apaixonada

por quem te deixava contente

e do amor de cebola cortada

meu choro era intermitente

sofri ao te ver dançando

de uma dor tão graúda

Fiquei só e entristecido

a dor é perpétua prisão

triste e arrependido

ante o peito que sangrei

implorei por teu perdão

e a insanidade absurda

Hoje sou amaldiçoado

e a tortura do tempo

é a minha boneca vodu

todo dia revivo o momento

como um eterno "de javu"

a lembrança que não muda

Hoje não mais sangro

e disfarço uma felicidade

e com esta letra de tango

estou indo pra Buenos Aires

curar as insanidades

e a perda da minha musa.

Enfim , acabou o cigarro

despedi-me da barragem

liguei novamente meu carro

o meu velho "Silverado"

tomei de novo a estrada

na imensa terra desnuda

Paulo Cezar Pereira
Enviado por Paulo Cezar Pereira em 23/09/2015
Reeditado em 02/05/2024
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