O outro de mim...

Foi-se embora de mim um

outro ser. O sonhador.

Desatou-se do nada e partiu…

Saiu num galope desamparado

montado num Cavalo-poesia!

Perdi, nesta repartição,

a melhor parte de mim;

a que me era dessemelhante.

Agora tenho um olhar comum

para o que era extraordinário!

Nem sei desde quando eu era dois.

Mas o outro de mim fazia coisas

que me envaidecia. Romantizava

tudo ao seu redor, fantasiava…

Percebia nas coisas mais comuns,

traços harmoniosos; possuía uns

olhos de susto e de deslumbre

próprios e essenciais à poesia!

Agora não consigo nem me alarmar.

Restou de mim a metade

comportável e previsível.

Não ouço mais nas manhãs

os gorjeios dos pássaros

beijando o tempo, saldando

o dia. Nem sei mais quando

é tempo de Poesia…

O mundo dormiu

belo e despertou

em tons cinza!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 22/09/2015
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