Entro em coma à meia-noite

Faleci para uma estrutura social:

Nasci para a meia-noite de um longínquo e absurdo hospital-cemitério.

Tira as mãos de meu corpo, enfermeira-moça, eu não te quero:

o corpo ainda é meu,

o morto não é teu,

nem seria, se fosse, nem queria, se pudesse.

Elas abriram um envelope que tinha o meu nome:

ano 1312

sexo indefinido

pai: ? mãe: ?

preso três vezes (ho-mi-ci-da)

Ah, mas elas esquecerão! Daqui a pouco, às duas horas, haverá outro cadáver a feder e a causar mais espanto, só por uns momentos. Outro chegará e ocupará seu lugar. Esquecerão dele da mesma forma... Mas eu nunca te esquecerei, morto maldito! Haverá sempre um lugar no meu pensamento a te recordar e a te louvar com a paixão que nem em vida imaginastes! Elas? Encontrarão no lar pessoas estúpidas, serão mais esquecidas em vida do que em morte! Mas agora deixe-me também... já chega a meia-noite!

Dan Oliveira
Enviado por Dan Oliveira em 20/09/2015
Código do texto: T5388948
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