Entro em coma à meia-noite
Faleci para uma estrutura social:
Nasci para a meia-noite de um longínquo e absurdo hospital-cemitério.
Tira as mãos de meu corpo, enfermeira-moça, eu não te quero:
o corpo ainda é meu,
o morto não é teu,
nem seria, se fosse, nem queria, se pudesse.
Elas abriram um envelope que tinha o meu nome:
ano 1312
sexo indefinido
pai: ? mãe: ?
preso três vezes (ho-mi-ci-da)
Ah, mas elas esquecerão! Daqui a pouco, às duas horas, haverá outro cadáver a feder e a causar mais espanto, só por uns momentos. Outro chegará e ocupará seu lugar. Esquecerão dele da mesma forma... Mas eu nunca te esquecerei, morto maldito! Haverá sempre um lugar no meu pensamento a te recordar e a te louvar com a paixão que nem em vida imaginastes! Elas? Encontrarão no lar pessoas estúpidas, serão mais esquecidas em vida do que em morte! Mas agora deixe-me também... já chega a meia-noite!