Perfil
À sordidez da terra estou recluso
e entrego a vida ao mais ingrato empenho:
tecer meu verso com bastante engenho
e olhá-lo em voo, como um pássaro intruso.
Me esgueiro atento pelo chão de tudo,
a vil matéria prima perseguindo,
para fazer do Rude o puro e lindo
cristal da lucidez, cruel, contudo...
Resido sob as folhas de um canteiro,
caminho à sombra de um trevoso espaço
que guarda a luz do meu incerto passo
e dessa forma acende o mundo inteiro.
Sou dono apenas deste corpo imundo
e nunca alcanço a glória tão renhida.
Não sei meu nome, nem que sou da vida;
que a identidade de um poeta é o mundo!